Não sabe a maioria dos leitores do Chuto de Letra que, em termos desportivos, além do futebol, tenho outra paixão. Trata-se do basebol - assim mesmo à portuguesa -, modalidade da qual já fui inclusivamente praticante, como tal sigo atentamente as incidências da maior liga do mundo, a MLB, e acompanho sempre que possível as transmissões dos jogos através do canal ESPN America. A esta hora estão vocês a perguntar o que tem isto a ver com futebol, por isso, aconselho calma que já perceberão quando passarem mais umas poucas linhas.
Pois bem, estava eu na passada sexta-feira a acompanhar a transmissão da partida entre os Colorado Rookies e os Pittsburgh Pirates, quando à entrada para o oitavo inning - num total de nove - o árbitro da partida comete um erro, «anulando» um ponto aos de Colorado, que perdiam por 1-0. Para os menos acostumados com estas coisas do basebol, imaginem que a vossa equipa entra num jogo a perder 1-0, com um golo nos minutos iniciais, e passa o restante tempo a tentar chegar à igualdade, mas sem conseguir ultrapassar a bem organizada defensiva adversária, que vai chegando para todas as investidas. Porém, a 10 minutos do final o vosso avançado consegue isolar-se e atirar para o empate, mas o árbitro decide, erradamente, anular o golo por fora-de-jogo. Convenhamos que caía tudo em cima da arbitragem, a começar pelos comentadores televisivos, sendo que durante toda a semana não se iria falar de outra coisa.
No basebol aconteceu precisamente o contrário e, depois de analisadas as repetições que permitiram concluir que a decisão do árbitro tinha sido errada, o comentador de serviço tem o seguinte comentário: "É verdade que o ponto era válido, mas o árbitro, que é soberano, assim não entendeu. Que siga a festa".
Ou seja, ao contrário do que acontece no futebol, ninguém crucificou o árbitro e, apesar da equipa prejudicada ter protestado - no basebol é permitido ao treinador falar com o árbitro -, acabou por aceitar a decisão, continuando a lutar para chegar ao empate, que acabou mesmo por acontecer no último e decisivo inning, com os de Colorado a chegarem mesmo à vitória, por 3-1.
Como se vê a mentalidade americana é muito diferente da nossa, é certo que o árbitro errou, mas ninguém levantou suspeitas, nem se vai passar a semana a falar do assunto. O próprio comentador de serviço foi o primeiro a dar o caso como encerrado à nascença. Certamente o futebol teria mais ganhar se imitasse alguns destes comportamentos e formas de estar.
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