segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Onde pára o espectáculo?


Nota introdutória: Este é um post sobre futebol.


O Chuto de Letra esteve inactivo nos últimos dois dias, muito por causa de, no passado sábado, ter trocado as bancadas dos estádios de futebol, pelas do Coliseu do Porto, onde assisti a um magnifico espectáculo, proporcionado pelos Kaiser Chiefs. Não, não me refiro ao clube da Liga principal da África do Sul. Falo de uma das melhores bandas da nova geração do pop/rock britânico.

Não tenho dúvida que os Kaiser Chiefs, liderados pelo enérgico Ricky Wilson, deram no passado sábado um dos mais animados concertos do ano - dose que terão repetido ontem em Lisboa - e que, apesar de só ainda estarmos em Fevereiro, ficará na lista dos melhores de 2009.
Tal como o futebol, a música é na sua essência motivo de festa e alegria, mas quando os Kaiser sobem ao palco esta premissa ganha novo fulgor, pois os britânicos transformam qualquer concerto num intenso fogo-de-artifício, sempre comandados por um Ricky Wilson que sabe puxar pelo público.

À imagem de Messi, o cantor delicia com estonteantes dribles sobre os próprios «companheiros de equipa», sempre acompanhados de fantásticos pulos de energia que parecem não ter fim. Com ele em palco a pressão é sempre alta, os passes são sempre feitos verticalmente na procura da baliza - leia-se público -, o que se traduz num manancial de «jogadas de perigo», que acendem os rastilhos para explosões de euforia vindas da bancada.

No Porto, o vocalista dos Kaiser Chiefs teve a assistência na palma da mão, desde o primeiro minuto de «Spanish Metal», até ao final apoteótico de «Oh My God». Pelo meio, foi sacando vários coelhos da cartola - «Ruby»; «You Want History»; «Good Days Bad Days»; «Na Na Na Na Naa»; «Never Miss A Beat»; «I Predict A Riot» «Can't Say What I Mean» - culminando com um monumental «TribunaDiving», quando Ricky Wilson surpreendeu todos e subiu a uma tribuna para depois se atirar para a multidão, num momento incrível de «crowd surfing».

Não será propriamente das coisas mais fáceis de fazer, mas a Invicta estava conquistada, como ficou provado nos momentos que antecederam o Encore, com o Coliseu inteiro a cantar «Angry Mob» a plenos pulmões, como que celebrando uma qualquer histórica vitória da selecção nacional numa competição internacional.

Tudo isto durou uma hora e 20 minutos pelo preço de 35 euros. Sim, paguei 7 contos na moeda antiga para ver um espectáculo de entretenimento incrível, bem menos do que para assistir a alguns dos pobres desafios da nossa Liga. No final, ficou apenas aquela memorável experiência. Não houve casos de arbitragem; não estive sentado num lugar desconfortável, à mercê das intempéries; não tive que levar com promessas de grandes jogadores, que afinal só cá vieram gozar uma reforma antecipada; não ouvi desculpas esfarrapadas da Liga para justificar um qualquer regulamento estranho e melhor que tudo, só perdeu quem não viu, porque os vencedores estavam encontrados à partida - todos aqueles que se deslocaram ao mítico Coliseu.

É esta a sensação que me fez adorar o futebol, mas que há já alguns anos deixei de sentir quase de cada vez que deixo um estádio. Não há espectáculo, não há entretenimento. Só uma névoa que retira todo o brilho que, tal como as actuações dos Kaiser Chiefs, o futebol deve ter.


FOTO: Luís Rocha Graça

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