Muitos apontam o dedo a Jesualdo Ferreira, questionando as suas opções, outros atiram-se aos jogadores, mas para mim a explicação é outra e será necessário recuarmos uns anos para a compreendermos.
"Quando da primeira vez saí do FC Porto, o Pinto da Costa costumava dizer que não negociava com empresários, que tratava de tudo directamente com os jogadores. Depois, quando me contrataram como treinador principal, verifiquei que os empresários tinham aberto tenda nos corredores das Antas, movimentavam-se a seu bel-prazer dentro das instalações do clube, a toda a hora e a todo o instante, como se estivessem em casa. O Pinto da Costa não só passou a negociar com empresários como também passou a almoçar e a jantar com eles. Algo que antes era impensável. Os empresários, desde o Araújo até ao Jorge Mendes, passando pelo Rui Neno, não tinham qualquer tipo de restrições no acesso tanto aos dirigentes como aos jogadores do FC Porto. Quando regressei às Antas, o Reinaldo Teles disse-me explicitamente que eu não tinha sido contratado apenas para pôr a equipa a jogar futebol, mas também para acabar com a influência do Adelino Caldeira e do Jorge Mendes junto do presidente." As palavras são do ex-treinador do FC Porto, Octávio Machado, e estão escritas no seu livro «Vocês sabem do que estou a falar». Umas linhas mais adiante Octávio conta que Pinto da Costa lhe teria dito que Jorge Mendes tinha "19 jogadores no plantel".
A equipa do FC Porto era na época constituída pelos seguintes jogadores: Guarda-redes - José Eduardo, Paulo Santos, Pedro Espinha, Sergei Ovchinnikov e Vítor Baía; Defesas - Secretário, Sousa, Nélson, Ricardo Costa, Jorge Costa, Rubens Júnior, Ricardo Carvalho, Jorge Andrade, Hugo Ibarra, Mário Silva e Ricardo Silva; Médios - Quintana, Joca, Pedro Oliveira, Deco, Peixe, Pedro Nuno, Paredes, Costinha, Miran Pavlin, Soderstrom, Alenichev e Paulinho Santos; Avançados - Rafael, Paulo Costa, Ivan Kaviedes, Pena, Esnaider, Capucho, Cândido Costa, Clayton, Hélder Postiga e Benni McCarthy.
Basta olhar para os nomes para se perceber algumas semelhanças com a actual equipa dos Dragões. Relembro que a culpa do FC Porto ter ficado com este plantel, é segundo Octávio Machado, e começa a ser minha convicção também, da influência dos empresários junto do presidente Pinto da Costa.
Octávio acabou por nem chegar ao final da temporada, sendo mais uma vítima de toda esta trapalhada, sendo substituído por José Mourinho. Se recordarmos o que fez Mourinho na época seguinte, facilmente se constata a limpeza levada a cabo pelo técnico português. Ou seja, Mourinho conseguiu aquilo que Reinaldo Teles tinha pedido a Octávio: acabar com a influência dos empresários no FC Porto.
Seis anos depois, olhando para o que têm sido as contratações de qualidade mais do que duvidosa do clube, fica toda a ideia que a influência dos empresários junto do FC Porto, do seu presidente e da administração da SAD, voltou mais forte do que nunca.
O que nos leva à questão: Jesualdo Ferreira terá capacidade para afastar essa influência? A resposta é claramente, não.
Assim sendo, só avisto em Portugal um treinador capaz de o conseguir, por aquilo que é a sua postura e, porque não, pelas semelhanças com José Mourinho. Falo claro de Jorge Jesus, treinador do Sporting de Braga e por esta altura já os leitores perceberam o porquê do título: Só a ajuda divina pode salvar o FC Porto.
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