sábado, 18 de outubro de 2008

Para quem ainda não percebeu: Scolari VS Queiroz






Na sequência do empate da Selecção Nacional diante da Albânia, da última quarta-feira, tenho vindo assistir ao eclodir de uma campanha que me dá asco, de tentativa de Golpe de Estado, leia-se correr com Queiroz do comando técnico. A acrescentar a tudo isto surgiu também um movimento saudosista pró-Scolari, daqueles bem à moda lusitana (lembram-se de D. Sebastião?).



Sou um defensor convicto de Carlos Queiroz e digo desde já, que mesmo que não consiga o apuramento para o Mundial 2010, deverá permanecer no cargo, pois ao contrário de Scolari, tem um projecto para o futebol português.



Quanto ao técnico brasileiro, fui sempre um crítico do seu trabalho, pois considero que é um treinador bem à moda do Brasil (conhecem algum que tenha sucesso na Europa?), muito fraco tacticamente, mau a ler o jogo e a sua acção nunca foi decisiva durante um jogo. Claro que teve coisas boas, das quais destaco o facto de ter tido sempre os jogadores na mão, mesmo tomando opções muito discutíveis (falo de Baía claro está, mas há mais), a verdade é que o grupo esteve sempre com o ex-seleccionador e isso é um mérito exclusivamente seu.



Mas para quem ainda não percebeu, passo a explicar porque considero Queiroz uma melhor opção.



Scolari chegou a Portugal em 2003, onde veio encontrar uma selecção da qual ninguém esperava grande coisa. Porque os resultados no Mundial do Japão foram o que se sabe e porque durante quase dois anos, a equipa não disputou um único encontro oficial. Ou seja, Scolari teve dois anos para preparar uma equipa.



Por seu lado, Carlos Queiroz regressa a Portugal numa altura em que a selecção tem que disputar um apuramento para um Mundial, onde ninguém admite que não vamos estar, porque andam todos convencido que temos uma das melhores selecções do Mundo. Eu até concordo, mas só se dissermos que temos a 9ª melhor equipa, porque há outras bem melhores que a nossa (Espanha, Itália, Inglaterra, Argentina, Brasil, Alemanha, Holanda e Croácia). Logo a pressão é muito maior, algo que Scolari só sentiu verdadeiramente durante o Euro 2004.



Mas a grande diferença está nas equipas que os dois treinadores vieram encontrar e aqui Scolari tem uma vantagem imensa.



Para o Euro 2004 Scolari convocou os seguintes jogadores: Guarda-Redes – Ricardo, Quim e Moreira; Defesas – Paulo Ferreira, Miguel, Nuno Valente, Rui Jorge, Fernando Couto, Ricardo Carvalho, Jorge Andrade e Beto; Médios – Costinha, Petit, Tiago, Maniche, Rui Costa, Deco, Figo e Simão; Avançados – Pauleta, Nuno Gomes, Cristiano Ronaldo e Hélder Postiga. Se olharmos bem podemos facilmente perceber que esta equipa tem dois jogadores por posição bastante semelhantes. De fora ficaram jogadores como Vítor Baía (eleito nesse ano o melhor guarda-redes da Europa), Boa Morte que havia feito nessa época a sua melhor temporada de sempre e Fernando Meira que já despontava como um dos melhores estrangeiros a actuar na Alemanha. A destacar ainda o facto de metade desta equipa ter sido campeã europeia pelo FC Porto, de ter jogadores com elevada experiência internacional como Rui Costa, Figo e Pauleta, sendo que os dois primeiros, mais Fernando Couto eram verdadeiros lideres de balneário. Esta equipa apresentava ainda uma média de idades de 26 anos, ou seja, estava no ponto!



E que fez Scolari? Chegou à final e perdeu com a Grécia. A jogar em casa, com o Estádio da Luz cheio e com um país inteiro a carregar a Selecção Nacional às costas não me digam que foi um bom resultado. Já sei que é o melhor resultado de sempre, mas bom era vencer, era essa a obrigação depois de estar na final e falhou.



Agora vamos a Carlos Queiroz. A última convocatória foi a seguinte: Guarda-redes - Eduardo, Quim e Daniel Fernandes; Defesas - Bosingwa, Paulo Ferreira, Bruno Alves, Fernando Meira, Pepe, Tonel, Antunes, Miguel; Médios - Maniche, Deco, Raúl Meireles, Danny, Carlos Martins, João Moutinho; Avançados - Ricardo Quaresma, Cristiano Ronaldo, Nani, Nuno Gomes Yannick e Hugo Almeida. Para começar perdeu Deco (e já todos sabemos que não há ninguém capaz de fazer o mesmo papel), Bosingwa e Maniche (há ainda o caso de Ricardo Carvalho), tudo jogadores titulares, tendo chamado posteriormente Manuel Fernandes. Olhando para este «plantel» nem sei a quem deveria dar a braçadeira de capitão, Ronaldo não tem perfil, Nuno Gomes talvez fosse uma boa opção, mas o que mais se assemelha a um líder é mesmo Maniche. Ou seja, não há um jogador que seja o espelho do exemplo para os que estão a chegar, que como sabemos são muitos. A média de idades em relação ao à equipa que esteve no Euro mantém-se, o que muda, e que tem feito toda a diferença é a experiência destes atletas. Dez destes jogadores acabam de chegar à selecção e na sua maioria são ainda jovens. Esta equipa carece de um bom lateral-esquerdo, não há um trino como Costinha ou Petit e não tem um avançado como Pauleta. Mas não tem, não por culpa de Carlos Queiroz, não tem porque não existe, estes são os melhores.



Ou seja pede-se a Queiroz que faça o mesmo ou até mais, tendo menos que Scolari, esquecendo-se que o grande desafio da actual equipa portuguesa até nem é chegar ao Mundial, é crescer como equipa e para isso é preciso tempo. Queiroz tem ainda que «levar» com as asneiras que ainda deixaram o brasileiro fazer, antes deste ter ido para o Chelsea. Lembro que o calendário foi ainda «negociado» por Scolari. Agendar os encontros com a Suécia e Dinamarca para esta fase, onde a remodelação ainda vai no início, só podia mesmo vir da incompetência de Scolari.



Mas o maior de todos os males é mesmo Queiroz ser português e não falar com sotaque, porque então tudo lhe seria perdoado.






P.S. - É verdade que me estiquei na letra, mas tinha que ser!



2 comentários:

Anónimo disse...

Um post interessante e oportuno, de facto. Mas sou obrigada a discordar de algumas das opiniões. Penso que o problema não é o Queiroz ser português. Eu, por exemplo, sempre tive esperança que a escolha recaísee nele e sempre achei que com ele Portugal não teria dificuldades em ultrapassar os desafios. Admira-me que digas que se a selecção não se apurar que devemos perdoar Carlos Queiroz quando nunca perdoaríamos a Scolari (será que o problema é ele ser brasilerio?).E se ninguém esperava nada da equipa de Scolari porque é que depois do trabalho dele todos esperamos grandes feitos da selecção. Afinal ele fez ou não um bom trabalho?
Só uma última anotação, depois dos últimos oito anos acho que já não podemos dizer que a selecção inglesa seja melhor que a nossa.
Parabéns pelo blog, é um espaço priveligiado de discussão para quem gosta do que se passa no mundo do futebol.
Ass. Marlene

Carlos Saraiva disse...

Olá Maiene!!
"Admira-me que digas que se a selecção não se apurar que devemos perdoar Carlos Queiroz quando nunca perdoaríamos a Scolari (será que o problema é ele ser brasilerio?)"
Nuna perdoaríamos a Scolari?! A Scolari foi perdoado o facto de ter deixado de fora o melhor guarda-redes da Europa no Euro2004, foi-lhe perdoado ter perdido uma final em casa diante dessa grande potência do futebol mundial que é a Grécia(!), foi-lhe perdoado ter andado à batatada com um jogador sérvio e foi-lhe perdoado ter sido eliminado no último europeu nos quartos de final, quando disse que no mínimo queria ir até às meias. Não serão perdões a mais?
Quanto à questão da Inglaterra, vai ver a classificação deles e refiro-me à actualidade. A Inglaterra tem, neste momento, claramente uma selecção melhor que nossa.
E sim Scolari fez um bom trabalho, mas podia ter feito muito mais.

P.S. - Volta Sempre!!